sexta-feira, 27 de agosto de 2010

a música, eu pensei, então me pergunto


a música é outra, mas repare como nunca existe o silênio. você pode até querer de fato uma fração de segundo de vácuo, mas é impossível. sempre existe uma última nota, um toque, um timbre, um acorde que mantem passo ante passo. segue...

a música é outra, mas repare como vc continua dançando. da sua maneira. o ritmo vem de dentro, não importa gênero, letra e composição. vale o que o movimento que cada um de seus ossos permite ao mesmo tempo em que respira. segue...

eu pensei em escrever, aliás como havia prometido, mas ponderei e este espaço me pareceu o mais adequado. porque não fiz ontem mesmo? pra que a urgência, afinal como poderia nutrir sua paixão se tudo fosse assim, exposto, de mão beijada. segue...

eu pensei em escrever, mas me parece que nem sempre é prudente deixar dedos se expressarem antes da mente. não quero estragos, mas que cada letra sirva como que um afago invisível, uma lágrima enxuta, um soltar de mãos quando sabemos que haverá uma volta. segue...

então me pergunto o que gostaria agora. não me canso de perguntar é como que uma atitude que garante o próprio ato de respirar, a certeza de que meus dedos respondem algo mais seguro, mas que saco, que prudência insuportável é essa? por vezes a insensatez se mostrou a melhor das portas...certamente que continua sendo. segue...

então me pergunto porque mantenho a sede mesmo saciando esse desejo com o mais nobre dos líquidos. qual líquido? escolha o seu. o que eu considero não importa. vale tão pouco para que reencontre a melhor maneira de caminhar, a melhor calçada para correr, a paisagem adequada para ser o cenário dos seus sonhos. segue e ponto final

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Aqui




Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que ha para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Fernando Pessoa ( Alberto Caeiro)