sexta-feira, 29 de abril de 2011

Você me eleva


Parece bem bobo, parece mais simples, afinal, nada sem igual, é só você chegando. Aqui me faltam palavras, me faltam argumentos, me fogem as rimas. É você, diante de mim.
Dispenso legenda, retenho seus lances, decoro até pausas de respiração. Seguro o riso, censuro o suspiro, arquivo os instantes. É você partindo. E tudo isso ficando.
Parece bobagem. Parece poesia. Você me eleva de um jeito seguro.

domingo, 24 de abril de 2011

Um encontro para 2004

Eu não lembrava que ele me chamava de "vó". Eu não me lembrava de tantas coisas!!! Coisas que eu não teria esquecido em outros tempos. Eu fiquei tão mais leve desde o último outono descobrindo a delícia do espaço que se abre quando se joga fora o que é inutilizável, mas, as memórias?
Marcamos um encontro - e eu tive medo de comparecer. Medo de parecer menos medrosa - e dos medos eu ainda me lembro um pouco. Eles davam o tom. E nada teria sido merecedor das melhores lembranças se não fosse aquele medo.
Mas sempre nos encontramos por facetas tão distintas. Vários encontros dentro de um mesmo encontro. E um encontro único por meio de tantos encontros. Várias conversas contínuas e complementares. Nenhuma delas previsível e nada nunca definitivo.
Mas ontem marcamos um encontro e não fomos.
Ouça: não repita encontros dignos de moldura se os anos já deixaram vocês pra trás.
Ontem eu descobri que eu não me lembrava de nada! Logo eu! Eu e as memórias! A estas memórias que acabaram, por estar entre tantas outras, sendo espetadas e murchas como bexigas, hoje as minhas desculpas. E a minha retratação.

- eh pq vc eh um simbolo de coisas boas q eu nao devo lembrar o tempo todo
- vc eh uma dakelas pessoas
- e faz ANOS que a gente nao se fala..vc deveria saber primeiro onde pisa..rs
- a geografia muda com o tempo
- q a gente fika uma cara sem conversar, e qdo o faz parece q foi ontem a ultima vez?
- sim...tbem acho
(...)
- que coisa nao...é uma afinidade nociva..ou nao
- certas coisas nao mudam
- acho q a gente se repele pq se juntar pode dar mto certo
- espero poder conferir isso antes do fim do mundo de novo
(...)
- talvez vc nao seja...mas coloca os assuntos em ordem desfavoravel a vc mesmo
(...)
- mas isso eh analise com dados invalidos
- dados invalidos?
- sim, na época q conversavamos mais eu nao coletava informações como hj
- agora acho q analiso melhor as pessoas
- entao hoje vc quer dizer que tem nuances e impressoes mal colhidas e que portanto nao podem ser analisadas?
- bingo
- entao se hoje vc falasse pessoalmente comigo poderia ser catastrofico
- talvez
- e achar uma pessoa que eu nao era
- mas que na sua mente eu era - e até ainda sou
(...)
- aí é que sao elas...o que vc podia achar massa em mim pode estar aqui ainda, mas vc ja nao achará massa mais
- e isso fará vc pensar que entao nunca foi massa....e entao esquecer de vez
(...)
- vó, boa noite
- boa noite, vô
- vc nao tem ideia de como foi massa falar com vc
- reviver
- recordar
- recontar
(...)
- posso estar perdendo o jeito, ou ateh msm a graça
(...)
- ja esperava algumas palavras suas
- vc jah ouviu coisas demais
(...)
- mas sério q esperava isso td?
- lógico
- claro
- nossa
(...)
- eu nunca consegui chegar a uma amizade com vc
- acho q essa parte eh culpa minha
- e acho que nunca vou conseguir
- pq vc nao quer
- ser meu amigo
- nunca quis
- nao eh bem assim
- e nunca vai querer
- na verdade eh mais denso
- gosto de denso...gosto dessa palavra
- digamos q minha vida as vezes me faz ter saudade do antes
- entendo
- até aí eu entendo
- e vc simboliza bem essa parte
(...)
- e entao eu prefiro que vc nao me reencontre por ai na rua
- nao veja que meu papo continua abstrato pra caramba mas que posso ser chataa demais
(...)
- só pra retomar
- eh pq vc eh um simbolo de coisas boas q eu nao devo lembrar o tempo todo
(...)
- se vc me encontrar, vai atualizar seus dados
- e a lembrança vai ganhar nova camada de tinta pra sempre
- eh
- numa dessas eu te persigo mais uns anos neh
- melhor nao se arriscar a esse ponto
(...)
- fico mais sussa agora
- sabendo que vc sabe como deve ser ideal
- sim, mas nunca se sabe neh
- as vezes eu posso simplesmente nao sumir mais
- amanha posto um pouco disso aqui 
- pq acho que essa conversa é densa e eu adoro coisas densas
- mais que coisas bonitas
- isto ..fico feliz em ter sido util
(...)
- sem mais....saiamos daqui


segunda-feira, 18 de abril de 2011

existe vontade de fazer ciência?




hoje acordei com uma vontade de fazer ciência. mesmo que seja ciência das letras. ciência do tempo. ciência das frases. então primeiro eu li um pouco mais algumas páginas de um ótimo livro.

(nota)

um ótimo livro, daqueles que torço para não terminar

o que é fazer ciência, afinal? lidar com áreas do conhecimento para quem sabe produzir algum conceito ou encontrar uma nova resolução para questões seculares? ou quem sabe a inserção em linhas de raciocínio atuais possam de fato caracterizar um cientista ou o próporio ato de fazer ciência?

(nota)

questionamentos assim já são ciência?

em outra conversa, ainda na parte da manhã, com duas pessoas que acordaram mais cedo que eu e por isso pareciam com cérebro mais afiado no meio do período, encontrarmos áreas do saber e do fazer nas quais parece não faltar, por motivos aceitáveis, recursos, humanos, tecnológicos e financeiros: medicina, agronegócio, neurociência, aeronáutica, entre outras. Sim, são esferas que decidem ou, se preferir, garantem a manutenção humana no mundão.

eu não saberia continuar essa prosa sem pensar um pouco. ou sem pesquisar um pouco. prefiro então acabar com uma pergunta. se fazer ciência é tão importante, ou se os atos e decisões da ciência são pontos de partida da nossa continuidade, porque raramente os feitos de laboratório ganham a primeira página? faça um teste e procure nas capas, nas manchetes, nos portais e telejornais.

terça-feira, 5 de abril de 2011

'justifico'

Antes, um diálogo

P(essoa) - sumiu mesmo hein?

P(essoa) - vamos a sampa?

(Eu) - vc tem bola de cristal?

(Eu) - eu comecei a escrever uma "justificativa" para o me sumiço, ia publicar no blog

(Eu) - agora nao sei mais

(Eu) - vai parecer mentira minha

(Eu) - ontem tive insônia e comecei a pensar em algo que justificasse pra mim mesmo meu sumiço

(Eu) - ai conclui que meu coração definitivamente passou a racionalizar meus atos...imagina, um coração racional, o cúmulo do paradoxo!!!

P(essoa) - uaaau

P(essoa) - escreva lá, please

(Eu) - mas é isso mesmo, a cabeça passou a querer algumas coisas, mas o coração expele uma especie de ordem impedindo que o corpo faça bobagens e deixe ele (coração em paz)

P(essoa) - sim...maturidade forçada

P(essoa) - a gente não gosta mto se ficar sem molecagem...mas as vezes a cabeça manda

(Eu) - não sei, só não quero mais que minha boca grande atrapalhe mais ninguém, muito menos meu coração

(Eu) - parece dramalhão esse negócio de coração, mas não é não. é uma especie de auto defesa e de proteção aos que adoro. o coraçao resolveu pensar mesmo, ou voltou a endurecer, como todo mundo diz e acho que até gosta

P (essoa) - rsrsrs

P(essoa) - mtos gostam de corações mais endurecidos e de poucas cores

P(essoa) - eu gosto só se for por um tempo, até ele poder se jogar de novo nas cores mais improváveis

P (essoa) - ando bem racional tambem....sem sair, só trabalhando e vendo filmes...e está mto bom isso

(Eu) - rs (nem sei se dou risada)

P(essoa) - ah.....e ontem peguei um livro emprestado (e achei BATATA pra minha fase "não faço ideia do que eu quero e isso é ótimo") - nada de autoajuda, e sim pesquisa de um psiquiatra sobre a coisa da pessoa procurar outra (coisa/um escape) quando antes precisaria ter refletido sozinha e aprendido a ser completa

P(essoa) - aaai aaai...rrsrsrs

P(essoa) - vc se ausentou, fiquei inventando firulinhas

(Eu) - melhor, por enquanto ... prometo que volto, talvez cole essa conversa, ok?

P(essoa) - yesssss





Depois, um desabafo (sei lá se é desabafo)

Eu estava com uma baita vontade de dizer que estava mesmo era sem saco. O tempo tenho destinado à ciência, da mais nobre às mundanas. E outras paixões que descobri nos últimos dois ou três anos. E dessas paixões os sentimentos parecem brotar e inverter a ordem de cada dia. Quando menos percebo, tem lágrimas de novo, mas de alegria. Será que mereço? Creio que sim. E você, com motivos de sobra, se afastou também. Natural. Ultimamente não trago nada de bom, não falo nada de produtivo, deixei de ser algo que nunca fui. Toda essa mudança de comportamento, cara P(essoa), garanto, foi um conjunto de estratégias de auto defesa. E se me defendo, permaneço centrado. E se estou centrado, apenas saboreio em sonhos o que um dia sonhei de olhos abertos. E se fica no sonho, não perturbo mais. E o processo tem ocorrido de forma gênica, membrana após outra, em sentido inverso. Do coração, para a mente. Razão anulando vontades. Uma soma de anulações com efeito anti-inflamatório. E de tanto me anular, acostumei a ficar assim, feito carro alegórico em abril.





sexta-feira, 1 de abril de 2011

Anúncio de jornal

Ao desconhecido do que ainda há de chegar. 
Ao que se abre em todos os primeiros dias de cada mês.
Ao que veio. 
Ao que muda e colore.
Ao que se comemora hoje.





"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. 
Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. 
P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar"

(Clarice Lispector)