segunda-feira, 30 de julho de 2012

Segunda-feira, 2h09 AM

Na insônia de hoje, dou água para os meus cactos. Não por haver insônia, mas porque eles só bebem aos domingos, e eu havia esquecido disso.
Na insônia de hoje opto por brincar com o sono. Danço o foco da luminária por todos os objetos do quarto, chamando todas as sombras para saber de suas vidas. Arrumo as gavetas, depois as caixas de brincos, e as bolsas, e as roupas de inverno, ouvindo 17 vezes ou mais "Acontece" na voz de Caetano. Lembro-me dos meus cactos e dou-lhes água.
Depois invento que bom mesmo seria imaginar a volta bonita de um menino que fugiu - a fuga também é invenção minha, mas nas horas de sol e pressa. O que posso eu a esta hora tarde para perguntas tensas disfarçadas de papos casuais sobre previsão do tempo ou futebol? Resta-me imaginar! (mais ainda nestas noites irreais).
Dou água para os meus cactos. 
Por fim, opto por despertar, pensando em brigar com o sono a ter que implorar a este conhecido. O que posso eu dar em troca a este tempo que exige companhia e rouba descansos por ansiedades egoístas? O que ele quer? E a quem obedece? E eu, a quem devo?
Dou água para os meus cactos.
Na mudança de humor e tática, preparo a cama com muita almofada, essência de aroma suave e o barulhinho cadenciado do ventilador de teto hipnotizante. Adormeci. Esqueci-me dos cactos.
Mas, na leve dormência de hoje o barulho mais distante me acorda. E a vibração do celular de cabeceira quebrou a iniciativa do sono se render. Mensagens do menino que (não) fugia. E, além do sono, fica sem força aquela iniciativa de imaginar. 
Dou água para os meus cactos, por ser domingo. E você, por que bebe todos os dias?
Enquanto dou um pouco mais de água para os meus cactos, você rega de novo a imaginação com um silêncio absurdo depois de alguns torpedos perdidos. E eu, enfim, perdi o sono. Parabenizei a disposição para um lanche calórico e a volta pra cama sem escovar de novo os dentes. Não vou dormir! Não vou me preparar mais. Acendo as luzes, brinco com fotografias pelo celular, mudo seus temas de capas e telas, lembro a canção de Caetano e dispenso-a; agora sorrio sem pausa com as letras do menino que outrora talvez fugisse. 
Dou água para os meus cactos. Encharco-os. 
2h41 AM.   


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nem dormir


Tenho procurado cutucar a cabeça por dentro como quem procura angústias de felicidade para saborear. Os olhos cheios de areia. A cabeça cheia de areia. A boca cheia de doce. A mente cheia de sal.
Tenho tentado não deixar o sono me pegar tão cedo. E assim, por querer, consegui além, sequer dormir.
Procurei seus outros nomes e suas outras línguas. Seu passado não me interessou nem mesmo a capa. Seu futuro interessa-me além de hoje a noite.
Tentei criar você pra te esticar. Encher de cores bobas pra imprimir tuas mais difíceis imprevistas impressões. Mas você é doce como criança pequena; sorrisos na ponta de fios lisos.
Depois também procurei te deixar. Telefonemas pro passado me ajudam a descobrir que só você não passou: porque está sempre a chegar.
Depois tentei te esquecer, só pra ver no que vai dar. Sorria pra mim do mesmo jeito hoje, para que eu me alimente de insônias doces, sem essa de ter que inventar.



sexta-feira, 20 de julho de 2012

dormi bem


            foto: Céu de Outono | Campo Grande-MS | Crédito: Carol Canton

Confesso. Gostei de saber que moro na sua insônia. Espero que goste de saber também que me acompanha nos momentos de silêncio. Na estrada, no final da tarde, quando o céu está vermelho, lá no começo do outono, minha mente parece construir sua imagem no horizonte e então abandono a sensação de estar só. Tempo e espaço parecem não ser sinônimos de distância. Respiro fundo e volto a ler cada letra sua. É tão saboroso...

Ontem a noite foi inevitável apagar as luzes e me deitar, como quem desperta um botão de rewind no coração. Me entreguei às memórias das mais diversas. Cada lembrança veio acompanhada de dezenas de perguntas, mas preferi ficar flertando as imagens e deixei interrogações de lado. Ah! As imagens que formavam-se e diluíam-se feito nuvens,  por minutos foram acompanhadas por canções...pude mesmo sentir seu perfume...pude mesmo me encantar diante do efêmero...

Dormi bem e, na estrada de novo, me permiti acreditar que algumas daquelas promessas continuam valendo

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tes-tan-do, 1, 2...


- Está tudo pronto?
- Nada!
- Como 'nada'?
- Falta a roupa, a cor do batom, o colar que quero usar mas não dá com o vestido em que pensei...
- Não, boba...Tô falando de outra coisa!
- Ah...sim! Pronto! Estou ansiosa...vamos lá, coração!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

nem sempre



um terço de julho já rolou ralo abaixo. parece que a pureza foi junto. nem risos são notados quando olhamos para o céu e encontramos pipas se entrecortanto a partir de molecagens de recesso. por vezes, considera que é preciso não mais esperar o mês seguinte para dizer que o tempo está voando. oras, quem irá acreditar em algo que é por demais silencioso? no mais quem mesmo considerará algo que talvez não foste nem mesmo depois de consumado?

talvez um terço ou pouco mais que isso, de uma vida, foram embora. e então, em qual cenário será mais leve representar? tantas personagens não se encontram nem mesmo quando o roteiro vem mandado, direcionado, com os dias contados. quanto mais assim, com nuvens que balançam mente adentro, peito afora. quanto tempo ainda terá de vida essa profusão de sentimentos que não gostam de se ajeitar como qualquer cartela de cores?

nem sempre ter tantas perguntas é saboroso.