Na última vez que tocaste os
lábios nos meus, fizeste um pedido: “se cuida.” Pediu baixinho, sussurrou
enquanto os olhos brilhavam de despedida. Sussurrou como se assim eu pudesse
ouvir melhor, fixar o pedido como um mantra e fazer dali em diante com que
aquele pedido fosse atendido em sua plenitude. Assim fiz. Cuidei da saúde, da
alma, da família, dos amigos, das tarefas no trabalho, do ego, da mente. A tentativa
não foi, necessariamente, sinônimo de êxito, mas guardou em si um mérito
solicitado em seu sussurro.
Era 21 de dezembro. 2009. O silêncio
das suas mãos percorrendo meu rosto, como se tatuasse na minha face o carinho
mais sincero. Como se deixasse claro que algo de muito bom acabava de
acontecer. Cuidei de mim, mas não cuidei de esquecer te. Isso não pediu, talvez
porque não quiseste, ou mesmo esqueceste, ou mesmo desconsideraste. Então
lembro de ti toda vez que o sol arde no rosto, como se pudesse recordar sua mão
procurando minha boca.
Distância. Muita. Silêncio.
Demasiado. E eu lendo que passa por uma tristeza profunda. Inquietante isso,
pra dizer o mínimo. Não sou mais nem um detalhe naquilo que vive. Seria muita
pretensão. Incômodo mesmo. Não quero você assim, mesmo que meu querer nada
justifique.