Sempre me incomodou o fato de precisarmos de paliativos para continuar. Muletas químicas ou psicológicas, enfim, ansiolíticos, analgésicos, terapias, conversas com hora pra começar e terminar até que a frieza do relógio imponha um solene "até a semana que vem". Por isso o sem roteiros por tantas vezes norteou minhas atitudes e anseios. E por isso, por tantas vezes, fui obrigado a fazer uso das muletas.
Esse texto não é uma despedida. As muletas sempre estarão por aí e, porque não, serão tantas vezes a última/única saída. Mas hoje pela manhã resolvi me despedir de uma delas. Sim, ela me ajudou, me protegeu, me ensinou a construir mapas e trilhas para pensar e agir. E reagir a passos seguros. Talvez eu volte. Volto sim, porque apesar do apelido pejorativo (muleta), me deu a certeza da minha necessidade, da minha posição, mas algumas figurinhas ainda faltam neste álbum. Parte delas, daquelas premiadas.
Então entrei no carro, fiquei em silêncio. O que faria a partir dali, todas as terças, depois das 11h? Não almoçaria mais no mesmo restaurante? Sentiria saudades do cardápio e daquele flerte semanal com a mesma pessoa? Pra que tantas perguntas, se acredito ser mais verdadeiro não saber de tantas respostas?
Segui em frente, também voltarei ao mesmo restaurante, também em uma terça-feira...