segunda-feira, 21 de abril de 2008

Não, não é a tristeza. Não tem nada a ver com ela. Não é a repetição da mesma música desde as 15h da segunda-feira. Também não é a repetição do mesmo choro. Eu já disse que não tem nada a ver. É porque tem duas folhas de palmeira (não é palmeira, são folhas grandes, pontiagudas, mas eu não posso parar para perguntar nome de árvore agora - se as folhas estão querendo me engolir, que importa o nome?). São duas como duas mãos, em cima da janela desse quarto. Balançam e chegam na minha direção. Eu já mudei de lugar. Não, não é porque tenho um violão e não sei tocar. Não é isso. Ele continua encostado no mural de fotos que deixei vazio no chão. Mas não é porque eu não tenha amigos ou lembranças. É porque...não tem nada a ver eu explicar isso. Eu já disse que não tem nada a ver. É só porque as fotos ficam no computador, e separar e mandar pra revelar é sempre complicado de lembrar. E nem é porque aconteceu o que vocês já sabem. Eu já disse: não tem nada a ver. O dia ficou cinza muito rápido. E não é porque não aguento mais surpresa que tive medo. O medo já estava. O cinza é que incomodou depois. O vento que entra pela janela não é o vento da escadaria. E o céu não é nublado, é cinza. E as folhas continuam apontando em minha direção, e já mudei de lugar. Viu, não tem nada a ver com o que aconteceu. É só a música que fica repetindo e o livro que eu tô tentando começar mas não consigo. Eu preciso tomar banho. E tem um monte de roupas cheirando festa esperando na cadeira. Eu vou lavar os cabelos de novo. Os olhos, vou deixar por mais um pouco. Eu mesma sei que não tem nada a ver com aquilo, mas vou chorar mais uns minutos divididos pelo dia. E borrado fica bem mais bonito no espelho. Vai se enganar se pensar que estou pensando. É verdade, sim, não tem nada a ver com a tristeza. Ela chegou antes. E a conta telefônica sobre a cama não é sinal de nada. Nem me arrependo - não tem nada a ver com a tristeza, mas não me arrependo mesmo. Ah...e também não tem nada a ver com minha falta de talento, inspiração e criatividade. Porque eu escreveria, por exemplo, sobre as festas e os choros de um fim de semana pra lá de maluco. Mas não tem nada a ver com isso! Não adianta! Você acha que tem. Só você. E não tem nada a ver com minhas tentativas de não explicar. É só o tempo mesmo. Você é meio idiota. O vento parou. A noite vai tirar o cinza. Você é tão... Deixa! Passa, viu?