quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A menina que não tinha lágrimas


Chorou por 27 minutos sem pausa para engolir saliva ou piscar os olhos. Passou sem piscá-los. Deixava que as gotas pingassem do olho à blusa. Proibidas de passarem pelo rosto. Molhou a blusa vermelha – detesta vermelho. E o blush do rosto era forte, combinava mesmo com aquele rosto baixo no meio da festa.
Não vai mais chorar por esta vida inteira. Pelo menos, não ouvindo músicas de Bruno & Marrone enquanto os outros derrubam cerveja em sua sandália de salto imenso – que não sustenta o peso da memória.
Não vai criar um conto pra menina que não tinha lágrimas. Não vai contar as voltas dos ponteiros. Não vai contar para ninguém seus motivos – de chorar, de contar ponteiros, de não mais querer contar.
Não vai sequer terminar. Só veio registrar que de tudo que guardou, não há sobras. E que seu coração morreu regado por versos, no dia da morte do próprio poeta.

2 comentários:

Anderson Augusto Soares disse...

Belo texto, Amanda, cheio de ritmo. Uma pequena prosa poética muito bem ajustada. No meu blog também andei falando de lágrimas. Quando a senhorita fizer uma visita decente nele, há de saber do que se trata.

Anônimo disse...

Aprendi muito