sexta-feira, 13 de maio de 2011

sem título


Será possível mesmo pegarmos os sentimentos, todos eles, assim como pegamos massinha de modelar? depois de alguns minutos, todas as cores e formas viram uma única forma, amorfa, uma única cor, ainda sem nome. Será possível o coração da gente ficar mesmo assim? De conversas das mais diversas, nas mais variadas horas, locais, com interlocutores extremos, guardei que tem horas que precisamos chorar, mas a lágrima não cai. Mas não me lembro de dizerem que tem horas que simplesmente não existe mais lágrimas. Nem tristeza, nem rancor, nem alegria, muito menos tesão. É a tal cor da massinha, a forma amorfa, que parece ter emoldurado na minha alma um escudo. Um escudo que já era meu, mas que deixei de lado, culpa minha mesmo. Ufa! Uma carapaça, tipo aquela do personagem kafkiano, a tal barata inatingível. Em outras épocas, vivendo o que tenho respirado, diria sem cerimônia que preciso chorar, desabafar, espernear ou pedir permissão para a minha vigiadora para expelir algo entalado no esôfago. Mas hoje não. Chego até corar por usar tão simpático espaço com pouco ou nenhum sentimento, mas o tempo parece que chegou. Das vozes já não tenho lembrança. Do perfume, tão pouco. Do brilho e das cores, posso crer piamente que foi uma foto em preto e branco, que caiu de um ônibus, em outro século, e que encontrei, parei para olhar e depois depositei em um canto de praça e segui. Até mesmo a sensação de olhar para cima cessou. Não foi sonho, nem imaginação, foi...Eu posso viver assim, esquecendo que um dia fui o que todo mundo quer que eu seja?


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