terça-feira, 17 de julho de 2007

Vontade

Chuva! Frio! Pautas! Fome! Barulho perfeito entrando pela janela! Vontade de mergulhar num bom livro! Vontade de parar de pensar ao menos por alguns minutos. Amigo perturbado (só um???), eu perturbando a vida de alguém com as complicações que é ser um poço de dados que nunca sossegam, o som do rádio me perturbando. Sono! Vontade de nunca dormir. Vontade de ver as fotos que a Graziela nunca manda, que o Clayton nunca manda, que o Itiro nunca manda. Vontade de correr na chuva - se não tivesse frio. Pés molhados. Vontade de que comece logo a seleção de boleros nesta AM que a profissão escolhida (escolhida???) nos obriga a acompanhar. Vontade de colocar um som. Vontade de ouvir Ibrahim misturado com o barulho de chuva - que agora parou! Puta impaciência! E até o som da chuva pára quando eu quero curti-lo! Vontade de ter todas as vontades do mundo. E realizar nenhuma, para que não terminem. Impaciência.
Agora a radialista começa a ler os jornais da cidade. E aproveito para saber como ficaram as matérias que escrevi ontem e sobre as quais já não me passa quase o assunto pela cabeça. "Não vou discutir", responde a alma gêmea textual com quem tento um diálogo menos neurótico. Somos neuróticos. Hoje está sendo um dia neurótico. Chuva fina, fria e constante; céu nublado como eu adoro, ruas vazias e alagadas, pessoas quietas e bem agasalhadas; um e-mail-crônica exclusivo para a minha caixa de e-mails logo pela manhã; um convite para rever amigas de velha data, fofocas ditas em códigos com a pequena grande amiga que vejo tão pouco e sabe tão detalhado das minhas confusões - até mesmo antes de eu comete-las. Uma quase-discussão com a pessoa que eu devo perturbar muito, porque se irrita só de ouvir a hipótese diálogo-com-a-Amanda. Idéias contraditórias no mesmo espaço. Vontade de organiza-las, mas, mais ainda, vontade de deixar para organiza-las mais tarde. Vontade de não ter vontades. Vontade de escrever qualquer coisa bonita e depois ouvir daquela exigente alma gêmea textual que eu escrevi exatamente o que ele escreveria.
Mas a música me irrita de novo. O frio me deixa impaciente. Pés molhados. Mãos geladas. Vontade de que alguma vontade substitua todas as outras. Mas qual? Vontade de parar de pensar por alguns minutos e depois retomar tudo, só para saber quais pensamentos me tomariam primeiro. E assim eu os nomearia "importantes". E assim eu escolheria as vontades. Os passeios. Os amigos. O marido. O modelo do vestido. O nome dos filhos. O caminho para casa. O canal de TV. O livro. O minuto certo para ter vontades.

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