domingo, 14 de dezembro de 2008

sempre voltar


Precisou falar com ele - enquanto ele ensaiava uma mensagem pra dizer nada. Sempre convites para danças, que ele não recusava. Convites para dança. Só sabia reaproximar-se convidando-o para uma dança. E ele não sabia, mas não recusava. E por saber disso, esquecia o tempo. Ele sempre dançaria. Fosse injusta. Fosse omissa. Fosse distante. Voltaria para convidar-lhe.
Não cuidava do brilho nos sapatos, sequer passava o vestido. Se a música fosse a mesma todas as vezes, nem se lembraria de atentar. Entrava e saía com a petulância de quem mora só numa grande pedra por cima das nuvens e jamais convida quem passa as tardes olhando, à espera de uma fresta de janela aberta. Fechava todas as portas com a mesma chave, depois descuidava dela. Mandou fazer um muro alto, mas deixava aberto o portão. No fundo, tinha ciúmes. Mas ele diria por várias vezes que não precisava. E, que mimada! elogiava-lhe tanto e sem motivos, que a ela poderia chegar a parecer eterno. Fechava a cortina, mas deixava aberta a janela.
E por falar nela, havia um vento que só batia ali - onde os dois resolvessem dançar. A primeira vez foi numa escadaria, e ela queria carregar degrau por degrau até sua casa na pedra. Queria fazê-lo jurar que voltaria. Queria uma promessa. Queria roubar o vento. Controlar o vento. Exigir. No fundo, tinha ciúmes. Mas ele diria por várias vezes que não precisava. E, que mimada! elogiava-lhe tanto e sem motivos, que a ela começou a parecer verdade.
Nunca mandou-lhe cartões ou telegrama desejando melhoras. Mas, nos dias em que a sensibilidade lhe faria chorar em inauguração de gôndola de supermercado, é ele quem ela põe em todos os espaços da cabeça. No fundo, sente falta. Mas ele mostraria por várias vezes que não faltaria. E, que mimada! elogiava-lhe tanto e sem motivos, que um dia a ela começaria a parecer eterno. E é.

Um comentário:

Cláudio Henrique disse...

Oi, Amanda, td bem? Estou de visita em seu grande blog; gostei dele pra caramba, passa no meu tbm. Bjuss.