sexta-feira, 18 de setembro de 2009

companhia



Aqui não tem ninguém. E eu me esforço para que ninguém nunca veja, nunca leia, nunca note este espaço. Aqui não tem tinta, lápis, carvão, batom. E todas as minhas tentativas são contrárias ao que devo querer. Aqui não faz silêncio. E eu fico olhando a tela com uma batida ardente no tronco, vinda do estômago, espalhada uniformemente, fortemente, de repente, sinfonia de pratos e garfos, facas e garfos, colheres e facas, garfos e saltos, caindo, caindo, caindo, batendo por um, dois, três...tantos segundos que entontecem a sina de dar conta destas broncas - que a gente carrega pela teimosia; invoca e não larga; machuca, mas não fica na estrada por nada; não é deixada, não perde a vaga.

Vejo letras, letras, letras, feitas com dedos trêmulos (assim eu os quero), como os meus. Dançam e param, dançam e param. Espero, e o salão é o mais longo onde já dançamos - porque os seus não convidam, não tentam, me deixam. Tão longe, me tocam. Espero, sem pausa - dos pratos e garfos, facas e garfos, colheres e facas, garfos e saltos. Seus dedos sem pontas. Os meus deixaram a leveza, a delicadeza da hora de estrela (passada, há tanto); ganharam a linguagem do tempo: doente, ferrugem, fugitivo da verdade de empoeirar-se ao longo de tanta pausa. Engano-os, enganam-me, esforçamo-nos! Não escreva, não deixe que percebam, esconda as pontas da vontade.

Obedeço. Guardo os dedos. E estremeço.

II - Danço, peço, quero, vejo, ganho. Segundo ato. Fato. Exato como quero. Não peço. Tenho. Ganho. Gosto. Volto - com os dedos. Perdoo. Esqueço. Invento - pronto! Ponto. Escreva, escreva, escreva,  escreva, e-s-c-r-e-v-a,
e--s--c--r--e--v--a,
e---s---c---r---e---v----a,
e-----s-----c-----r-----e-----v-----a
e
s
c
r
e
v
a

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