sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ao sócio, com atraso

Descobri que me arrependo do que sinto.
Mas não vim para dizer isto. Eu quero que você saiba que eu precisava ter vivido cada grão de areia que incomodou sob os meus cabelos essa cachola teimosa.
Você, como um bom teimoso, poderia ter me entendido mais, e quem sabe sugerido umas canções para amargar mais e mais toooda a tristeza. Mas, você é assim como eu, se afasta de palpitar quando o outro precisa de colo, pro outro descobrir que se esticar dói mas alivia muito mais.
Escrevo para dizer que estive muito ocupada por estes dias tirando dos móveis os objetos que eu não quero mais. E são eles tantos, que eu nem percebia enquanto morava aqui.
Ando ocupada com uma companhia que me faz falar bobeiras sem nenhuma culpa, como as que deixamos naquela escadaria, há três, quatro anos...será que ainda estão lá?
Estou vivendo em férias escolares da terceira série, sem horários para dormir ou resolver sair pra qualquer lugar com o menino das palavras tão desastradas e bonitas. Depois de tanto tempo, AGT, tomei café da manhã quase na hora do almoço, com a maquiagem por tirar, e dormi até anoitecer de novo, para descobrir que fui desperta de verdade e não mais um daqueles dias de calmaria que precedem o tombo.
Estou de pé, AGT. Estou com saudades de te dizer coisas boas. Me perdoe pelas tantas e tediosas tardes de chororô.
Dia desses, voltei pra casa de sapatos na mão e um pedaço do vestido rasgado. Parecia aquela pessoa boba que você conheceu anos atrás. Ela sou eu agora. Estou de volta, AGT.
Não sei qual dia da semana é hoje, nem o dia do mês. A sensação é boa, muito boa.
Aqueles caras que iam me examinar, se foram. Ou melhor, eu não fui. Me dispensei.
Não faço a mínima ideia do que vou fazer amanhã - eu nunca estive assim.
Estou no presente, AGT.
Acabo de chegar da praça, onde me sentei ainda quando havia sol, para conversar sobre coisas que não existem, mas que a gente cria o tempo todo, como respirar. Tenho experimentado uma sinceridade que eu não imaginava existir. Uma sinceridade cortante, mas que adoça antes de assustar.

Tenho me sentido doce. Adormecida. E vivo consertando um sorriso flácido que fica pendurado na boca.
Estou certa de que você adoraria estar hoje numa mesa, com duas pessoas, conversando sobre sua vida. Tenho certeza que você me deixaria encabulada, como fazem os pais orgulhosos, como numa ligação telefônica, numa sexta-feira de dezembro de 2007, da qual você nem deve se lembrar.
Saiba que estou bem.
Obrigada pelo cuidado, meu amigo AGT.

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