domingo, 5 de junho de 2011

Sobre tudo


Sócio, minha leveza de pensamentos está quite com os 50 quilos do meu corpo. Estou pequena por dentro, e não pequena de miserável, mas de essencial.
A vontade doida que bateu de organizar as coisas deve ter um significado mais pra dentro da gente do que pensamos. E depois de separar e olhar para tudo, vi o quanto as ideias andavam etiquetadas dentro de mim há muito mais tempo. 
Como se a cura chegasse antes do final dos sintomas, sabe?
Doei metade das roupas, a maioria nunca usadas. Compradas na vontade de adotar um estilo que depois pudesse vir a parecer comigo. Não me adaptei a ser o que eu nunca fui. Doei calçados, brincos, bolsas.
E sem perceber, comprei muito também. E comprei coisas que não se pareceram com quem eu fui até passos atrás, mas que dão o tom daquela que eu vejo hoje quando pergunto por mim. Eu sou muito mais colorida. E ando rindo alto também.
Os sentimentos eu não doei a ninguém, nem deixei estocado no quintal de outros. É precisar tratá-los como o esgoto. Atribuir o que nos pesa à falta de cuidados deste ou daquele, só faz protelar a purificação - que é tão bonita!
Fato é que eu encontrei pelo caminho que eu pensei ser o mais difícil aquela pessoa dá qual te falo sempre. A presença à distância, que nem sonha com o quanto me colore.
Se em outras vezes alguém me completava, sócio, este me transborda. Não me basta ou me alimenta. Ele me interessa. É meu pé de laranja lima do quintal. Minha coleção de vinis. Meu prazer pequeno e simples.
É por quem eu me encanto diferentemente a cada acesso à memória. E posso despertar no meio da noite para lembrar-me de todo o bem que ele me causa, até a hora do despertador.
To sincera da casca ao caroço com as pessoas. E posso falar pra mim sinceridades grosseiras sobre o que me aconteceu de complicado, sem peso, nem dó. Porque eu sou de ferro, sócio. E inteira. Inteiramente plenitude.
Os episódios estão devidamente encadernados. E há tantas folhas em branco na minha frente, que eu tenho medo de afogar-me.
Agora, posso dormir às 20h num sábado. E virar a madrugada de domingo para segunda acordada. É diferente. É prazeroso. É novo. Posso estar pronta pra sair, e decidirmos ficar. E podemos ir ali ou longe sentados no degrau da varanda. E posso ainda me arrumar por uma hora, somente para olharmos um pouco as variáveis da vida com os ombros lado a lado.
Experimentando as mesmas coisas, nos mesmos lugares, com a parceria da cabeça cheia das caraminholas mais fenomenais que eu já fui induzida a imaginar, ainda me espanto, diariamente, com a figura que, distante na geografia, abraça e acompanha.
Com o aprendizado que vem do dono do pensamento mais bonito, mas ainda inseguro e frágil, que não faz ideia do quanto me enfeita e me expõe ao sol mais raro e milagroso.


Nenhum comentário: