sábado, 12 de novembro de 2011

Tempo do Tempo

Ouvindo enquanto escrevo: Tempo Sem Tempo, de Roberto Wisnik (ouça aqui).


E por fazer questão, sempre e tão somente assim, de sentir intensamente todos os momentos, das feridas às flores dos tantos ramalhetes, é que me despeço do que faço no tempo em que não achar mais espaço para certos laços.
E por fazer questão de não abrir as portas enquanto estiver ocupada em juntar peças mortas, é que demoro meses e anos para trocar os enganos não curados pela cura que traz a palavra nova.
E por fazer questão de levar cada pensamento ao mais escuro recanto dos espantos e dos acalantos, vivendo e sentindo e chorando e comendo agonias todas que passam, é que posso saber que vivi todas as gotas da memória que eu já não deveria carregar há tanto tempo.
E por fazer questão de falar delas e de prolongá-las e conservá-las de todos os jeitos, descartando qualquer gesto que queira vir tomá-las da perfeição que as dei por imaginação, é que sei que elas já não só não moram como sequer existiram.
E por fazer questão de ser a única mantenedora da dor e da dureza de seus fragmentos, que eu tanto quis rever vivos, é que hoje posso fechar baús, envelopes e esperanças, porque hoje me convenço de que você morreu ao primeiro vento. E que só faltava eu liberar de mim este teu cadáver inocentemente bonito e tão covardemente decomposto.

(fim da canção, paro os dedos, publico sem revisão)

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