segunda-feira, 25 de junho de 2012

Estamos adorando caveiras?



caveira |cà|
s. f.
1. Cabeça de morto já limpa de todos os tecidos.
2. [Figurado]  Cara magra e pálida.
3. [Brasil]  Cabeça.

(Dicionário Priberam)


Acabo de notar que eu nunca tinha digitado a palavra "caveira". Ao vê-la pronta, fiquei com aquele observar lento de quem sente que provavelmente nunca produziu esta figura e agora estranha seu desenho, sua composição, e procura soletrá-la para conferir que não falta ou sobra nenhuma letra.

A morte parece ser aquilo do qual fugimos. Da velhice também, por significar a proximidade da morte. Mortos, nossos corpos ficarão ao dispor da putrefação, até que toda a carne seja consumida, processada por bactérias, e fiquem visíveis os ossos somente. Caveira, morte, putrefação, apodrecimento, carcaça. O que sobra é a caveira, ou o crânio da ossada.

No auge da vaidade desta sociedade, esta mesma que luta contra o tempo, insiste em combater a velhice e quem sabe até driblar a morte, vejo anéis, lenços, pingentes, blusas, brincos, bolsas, óculos, puxadores, carteiras, botões, broches, apliques em calçados e uma infinidade de outros produtos cada vez mais invasores do mercado estampando nada menos que um crâniozinho capaz de arrancar suspiros de meninas e mulheres, cuja vaidade enxerga diversão e ternura por essas criaturinhas sem pele, sem olhos. A aparência do mal, o aspecto do macabro, a representação da morte, arrancando elogios e despertando paixões.

Há meses noto chegar este crâniozinho que aos poucos ocupou espaço em todas as lojas físicas e virtuais que visito, e que lidera a sugestão de presentes ("É pra sua mãe? Ela não gosta de caveirinhas? Olhe esta, que linda!"), e que supera até as opções de pingentes com imagens religiosas.

Por falar em religião, a moda absorveu também suas representações. Entre os destaques, acessórios que estampam Maria, mãe de Jesus (santificada pelos católicos), mas que não ganha do não menos famoso olho grego (que no Antigo Egito era chamado Olho de Horus e na Índia recebeu o nome de Terceiro Olho do Buda), enfim, amuletos de seitas e crenças que negam o filho de Maria como salvador. Sem contar o sal grosso em pingentes e até mesmo nos anéis mais delicados,  e as pimentas apontadas como sugadoras do mau-olhado. Juntos, cristão e pagão; salvação e morte; asas e ossos. Na dúvida, usa-se de tudo, é isto o que acontece? Acreditando em Deus, que promete ser único, e optando por usar talismãs que prometem proteção, armamos um "combo"? Mas tudo é sensato ou sem sentido?

Bem...eu não pretendia tagarelar o parágrafo acima. Voltando à caveira, na minha infância ela nos representou o veneno, a bandeira de piratas, a destruição, a morte. 
Na semana passada, uma adolescente, ao ver a imagem de um anel que trazia uma caveira cercada por duas asas de anjos, resumiu “DI-VI-NO”. 
E desde então eu ando a perguntar: AGORA ESTAMOS ADORANDO CAVEIRAS?

Um comentário:

Anônimo disse...

não tenho nada contra caveiras, mas faz sentido o texto. só um adendo, com relação a pimenta, as adoro