sexta-feira, 25 de maio de 2018

extratos



Os cotovelos imóveis fincados na mesa, vermelhos. Duas mãos bem fechadas a sustentarem o maxilar. Nem quase respiro. A brancura e o silêncio em nada lembram os soluços das primeiras horas em que as mãos estiveram nos olhos vermelhas, sôfregas, encharcadas de duvidar, trêmulas de dúvidas, brancas de desesperar.


O silêncio costura meticulosamente cada pedaço como um cão que, mesmo depois de tantos dias, não cessa de cheirar do dono a roupa já sem passado. Mas eu, não, não mais espero. Abraço a ideia absurda de um inevitável dia em que a memória lampeja somente o que não guardou e, em seu colo, como um extrato desbotado despencando da carteira,  você, inevitavelmente e sozinho, testemunhe meu rosto cair. Sorrio.


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